Para senadora do Amazonas, “a instabilidade que o governo vive em relação a sua base de apoio no Congresso é total” e declarações ácidas de Renan Calheiros, líder do PMDB de Temer, são maior exemplo.
Vanessa GrazziotinVanessa Grazziotin As contradições entre líderes da base do governo e do próprio PMDB mostram não só a instabilidade crescente entre os próprios apoiadores de Michel Temer (PMDB) como, nesse contexto, a dificuldade do governo de aprovar a reforma da Previdência. Ao clima pesado somam-se a ampliação das manifestações e as eleições no ano que vem, que começam a se tornar o fator mais importante no cálculo político de deputados e senadores.
“Hoje a instabilidade que o governo vive em relação ? sua base de apoio no Congresso é total”, disse a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), ? RBA.
Como maior exemplo dos conflitos entre aliados de Temer, Vanessa cita o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, que tem dado declarações ácidas na direção do Palácio do Planalto.
Na quarta-feira (15), por exemplo, afirmou que o governo “precipitadamente já inviabilizou a reforma da Previdência”. Quatro dias antes, Renan afirmou: “O PMDB não concordará que o governo continue a ser influenciado por Eduardo Cunha”.
Para a senadora do Amazonas, “é a velha disputa por espaço no poder”. Nesse ambiente de crise e em ano pré-eleitoral, os parlamentares não vão querer arriscar sua eleição em 2018. “Eles estão perdendo o timing da reforma”, diz Vanessa. “Acho que a tendência é não passar nada. A reforma da Previdência não passa nem amenizada.”
Depois das manifestações, aliados de Temer já estão mudando o tom em relação ? reforma da Previdência?
A instabilidade que o governo vive hoje em relação ? sua base de apoio no Congresso é total. No Senado é algo impressionante. As críticas partem de parlamentares não só da base, como de líderes como o senador Renan Calheiros. Nada mais, nada menos do que o líder do partido do presidente, que disse que a reforma já está derrotada.
O que a gente percebe é que há muita contradição no seio do governo, sobretudo conflitos de interesses. A crítica que Renan faz é contrária a Moreira Franco, ao ministro Padilha, diz que Eduardo Cunha manda no governo. É a velha disputa por espaço no poder. É uma forma de autoproteção em relação ? Lava Jato.
No contexto dessa reforma da Previdência, o governo acabou involuntariamente unindo a população?
Na reforma da Previdência, eles primeiro abusaram na dose, como forma de primeiro criar o terror para depois dizer que estão ouvindo o clamor popular para dizer “vamos mudar, e amenizar as mudanças mais drásticas”. Mas diante da amplificação das denúncias e envolvimento direto do governo, é um absurdo o governo exigir sacrifício do pobre enquanto o pobre está assistindo isso, essa quantidade de gente envolvida, pela televisão, pelo rádio. A reforma da Previdência não tem a menor possibilidade de passar.
Nem amenizada, conforme acenam alguns deputados da base?
Acho que nem isso. Eles estão perdendo o timing da reforma. Acho que a tendência é não passar nada. O movimento popular está crescendo, mesmo por parte dos que não vão para a rua contra o Temer. Muita gente não vai ? rua porque até um dia desse estava de verde e amarelo querendo derrubar a Dilma, na expectativa de que as coisas melhorassem, mas isso não está acontecendo. A perspectiva da economia não é de melhora, é de piora ou de estagnação, na melhor das previsões.
A própria base está bastante insatisfeita com a reforma da Previdência?
O (Romero) Jucá falou, na fala dele com o Sérgio Machado, que um presidente eleito não vai fazer reforma antipovo, como a da aposentadoria, que precisava de outro governo para fazer a mudança. Só que ele esqueceu que não é o presidente que faz mudanças sozinho. As mudanças passam pelo Congresso, e daqui a um ano e pouco o Senado vai ser renovado em dois terços e a Câmara em 100%. Essas pessoas precisam do voto do povo. Você acha que algum deputado vai querer exigir 49 anos de contribuição, acabar com a aposentadoria do pessoal que atua no setor primário, na agricultura? É claro que não.
Nesse caso, não se elege em 2018?
Não se elege. Por isso acho que a reforma da Previdência não passa nem amenizada.
Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual