A última rodada de pesquisa Ibope aponta Temer como o presidente mais mal avaliado de todos os tempos, desde que se fazem pesquisas desse tipo no Brasil. Mas, reiteradas vezes, o governante usurpador tem dito que não o preocupa a impopularidade, e sim o cumprimento dos compromissos assumidos.
Ou seja, não é ao povo brasileiro a que ele se sente no dever de atender, é aos que planejaram e executaram o golpe parlamentar-judiciário-midiático e o usam como marionete.
Qual um Fausto tupiniquim, Temer entregou a alma ao Diabo Mercado em troca de um lugar na História, pouco se importando que esse lugar ponha tragicamente sua figura vampiresca na condição de algoz do povo brasileiro.
Certamente por isso mesmo é que o jornalista Elio Gaspari, em sua coluna na Folha de S. Paulo, assevera ser Temer o ideal para conduzir o governo até o final de 2018.
Na mesma linha, Fernando Henrique Cardoso mostra-se preocupado com a hipótese de sua cassação pelo TSE, pois é Temer, em sua opinião, talhado para “conduzir a transição”.
Entenda-se transição, no caso, a execução da agenda regressiva destinada a substituir o ciclo transformador iniciado no primeiro governo Lula, e interrompido pelo impeachment da presidenta Dilma, pelo retorno ao projeto neoliberal que o próprio Fernando Henrique Cardoso encabeçou até 2002.
Desse modo, a tríade terceirização plena, reforma trabalhista e reforma previdenciária, que semeia entre trabalhadores e aposentados (a maioria dos brasileiros) a insegurança e a revolta, na consciência de Temer funciona como convicção do cumprimento do dever – pouco o incomodando, frio e calculista como o personagem de Goethe, que seja execrado pela opinião pública.
Mas nem tudo acontece conforme a trama urdida de fora e executada pela conjura golpista.
A resistência ? s reformas antipopulares — a previdenciária em particular — inverte a correlação de forças nas ruas, provoca fissuras na base parlamentar governista e pode vir a produzir um ambiente eleitoral novo em 2018, favorável ? s forças democráticas e populares.
A estas, que se perfilam na oposição, cumpre superar a relativa dispersão e fazer confluírem para um leito comum as ações de rua e a busca de alternativas ? crise.
Para tanto, concomitantemente com a denúncia e o protesto, impõe-se prioritariamente o exame das múltiplas variáveis que conformam a crise econômica, política e institucional — e, por conseguinte, a formulação de uma plataforma destinada a aglutinar amplo espectro de forças em defesa da democracia, dos direitos ameaçados, da retomada do crescimento inclusivo e da soberania nacional.