O processo de redemocratização do país que se iniciou no governo Geisel e resultou na ruptura com o regime militar, através da eleição de 1985 e, posteriormente, a recuperação das instituições democráticas a partir da constituição cidadã de 1988 abriu espaços para uma nova era em que o autoritarismo era deixado de lado para que a democracia assumisse o centro das decisões.
De lá pra cá, muita coisa se passou, mas a única certeza é o quanto a democracia ainda é frágil no seio político da sociedade. Os anos noventa foram marcados pela profunda adesão brasileira as políticas neoliberais fantasiosas que buscaram a todo custo enfraquecer o Estado Nacional, abrir a economia para o capital estrangeiro, privatizar as empresas estatais enquanto a classe trabalhadora sofria intenso bombardeio incessante em seus direitos, sendo assim, ampliando ainda mais a desigualdade social e os problemas crônicos do país.
A partir da crítica ao neoliberalismo é possível identificar algumas hipóteses pertinentes ao debate. Uma delas é que o projeto liberal tende a distanciar-se da democracia. Explico. Para Helio Jaguaribe, as democracias modernas podem ser dividas em social e liberal. Esta visa ? regulação apenas da sociedade civil e aquela busca o bem-estar social. Isso posto, é cabível ressaltar que a democracia contemporânea exige formas de intervenção no sentido de promover justiça social, algo distante do neoliberalismo que nega este projeto e, consequentemente, se afasta da democracia.
Após este breve introito é possível perceber que a conjuntura política supracitada favoreceu para a derrocada do governo FHC e a ascensão do presidente Luís Inácio Lula da Silva que, em 2002, é eleito pelo povo brasileiro, após perder três eleições consecutivas, dando inicio a uma nova história.
O preconceito contra o ex-presidente Lula é algo histórico e que tem inicio desde os anos oitenta e, principalmente, intensificado nas eleições de 1989, a primeira pós-golpe militar, em que Fernando Collor foi eleito. Porém, a vitória de Lula em 2002 provoca enorme alvoroço nas elites que só diminui quando Lula tornou-se o “cara” e figura exponencial da geopolítica mundial, nos dizeres do professor Clóvis de Barros Filho.
O fato público e notório é que a ascensão de Lula ao poder se dar a partir da adesão popular ao Partido dos Trabalhadores e apoio este consolidado através das políticas públicas realizadas pelo governo petista e da maior ascensão social coletiva que o Brasil já vivenciou. Para o ex-presidente, esta adesão ocorre pelo simples fato do seu governo ter colocado o pobre no orçamento.
Não é atoa que setores políticos conservadores atacam Lula e seu eleitorado. Os nordestinos, os negros, os pobres, os analfabetos, são os alvos principais de todos aqueles derrotados nas urnas e que tentam a todo custo enfraquecer governos populares.
O processo de Impeachment deixou claro o quanto estes grupos estão descompromissados com o voto popular. Os episódios que surgiram após a retirada da presidente Dilma Rousseff (PT) apenas comprovaram a tese de que todo este processo não passou de um golpe jurídico, parlamentar e midiático com claros interesses políticos, entre eles, estancar a operação lava-jato, entregar o pré-sal a preço de banana, emendar a constituição congelando gastos públicos e promover reformas através de um governo ilegítimo e sem voto com intuito de atender o capital estrangeiro e as forças hegemônicas mundiais.
Portanto, mais do que nunca, é necessário lutar pelo retorno da democracia através do voto popular. Não há nada mais salutar que devolver ao povo o direito ao sufrágio. Este que foi conquistado através de muita luta. Antes, apenas uma parcela minoritária da elite branca da sociedade votava. Mulher, negro, pobre e analfabeto ficaram ? margem das decisões políticas até pouco tempo. Em especial, os analfabetos que tiveram o privilégio de votar apenas em 1985.
Para concluir, não há como dissociar toda esta discussão da famosa luta de classes. A classe dominante tenta a todo custo impor sua lógica escravocrata e exploratória, por isso, a necessidade da participação popular e massiva nas decisões do país. Afinal, uma elite que aplaude Bolsonaro e critica Paulo Freire presume-se que fragilidade intelectual está no lado daqueles que tentam a todo custo cercear a voz do povo brasileiro.