Na luta política, há fatos que, embora previsíveis, quando consumados têm o dom de acirrar todas as contradições.
É o caso da condenação do ex-presidente Lula, ontem, pelo juiz Sérgio Moro, sem provas e com base nas “convicções” dos seus acusadores.
Esse fato, associado ? sucessão de denúncias reais e comprovadas contra Michel Temer e seu grupo, na outra ponta do espectro político, eleva a temperatura ambiente.
Da parte dos atuais governantes, segue o paradoxo: justo um presidente desmoralizado e rejeitado pela quase totalidade dos brasileiros toca a agenda por todos os títulos prejudiciais ? nação e ao povo, apoiado na maioria parlamentar que o sustenta, também de baixíssima credibilidade.
Não fossem os interesses do Mercado financeiro — onde se situa o verdadeiro comando da empreitada golpista —, Michel Temer já teria caído, qualquer que fosse a forma jurídica adotada.
Entrementes, se aproximam as eleições gerais de 2018 e o embate, quaisquer que sejam as circunstâncias e as regras legais vigentes, alcançará o status de decisão nacional.
As pesquisas mais recentes são unânimes em apontar o ex-presidente Lula como favorito. Vale dizer, uma ameaça de retorno ao ciclo de mudanças interrompido com o impeachment da presidenta Dilma — tudo o que o Mercado e a elite tupiniquim não desejam.
Moro, então, cumpre o seu papel no esquema e condena o Lula no afã de impedir que ele participe da próxima peleja eleitoral.
Daí a dupla indignação dos que se batem pelo Estado de Direito e recusam o desrespeito ? s normas processuais e ? s garantias constitucionais praticado pelo juiz de Curitiba; e resistem ao incremento da agenda de redirecionamento neoliberal da economia e de regressão de conquistas e direitos sociais.
A grande mídia monopolista, que apoia o golpe e participa constrangida do sangramento do governo Temer, ocupará de agora em diante espaços privilegiados no noticiário direcionado a “revelar detalhes” dos argumentos do juiz Moro, com o fito de atingir o prestígio de Lula.
Nas oposições, urge dar ? resistência amplitude, pluralidade e coesão, para além de discrepâncias e sectarismos.
Na cena atual tudo tem a marca da instabilidade e da imprevisibilidade, mas os próximos lances certamente aguçarão o nível da luta.