Não se trata de sincronia entre esses dois elementos, antes uma dissonância, abissal dissonância.
No Brasil de hoje, quem banca é o Mercado; enquanto a nação e o povo é que precisam. Em direções diametralmente opostas.
A lógica do Mercado é a da ultrafinanceirização — mundo afora e aqui. Da ruptura da bolha imobiliária em 2008, nos EUA, aos pesados investimentos dos bancos centrais na Europa para salvar bancos privados e a regressão de direitos visando ? redução dos custos de produção e a recuperação da taxa média de lucro e, portanto, da capacidade de reinvestimento. Tudo sob o modelo do enfraquecimento dos Estados nacionais e o borramento de fronteiras soberanas.
No outro extremo, a lógica é a do Estado imprescindível como indutor do desenvolvimento e a inclusão produtiva como fator de redução da pobreza e de valorização do trabalho. Não há solução para a crise global aprofundando o apartheid social.
Esse é o pano de fundo das eleições gerais no Brasil, em outubro de 2018.
Por enquanto, a dimensão dos problemas e o acirramento das contradições parecem ser maiores do que a capacidade subjetiva das correntes políticas em presença.
Nem a reverberação do passado recente dá conta dos desafios atuais, nem a trama midiática artificiosa. Ferir os problemas centrais e apontar respostas consistentes e factíveis é imprescindível.
Por enquanto, prevalece a dispersão — tanto no campo das atuais forças governistas como na oposição.
Na oposição, sobretudo as pré-candidaturas de Lula (PT), Ciro (PDT) e Manuela (PCdoB) são chamadas a darem um passo adiante na construção de plataformas, que podem se cruzar desde o primeiro turno, ou não.
Entre os governistas, obedientes antes de tudo aos ditames do Mercado, experimentam-se fórmulas discrepantes, que envolvem ensaios de possíveis outsiders a nomes tradicionais do PSDB e do PMDB, que alguns imaginam possa ser o próprio Temer. Ou o seu mentor, o ministro Meirelles.
Alckmin, pelo PSDB, vem insinuando ideário a um só tempo “de direita e de esquerda”. Ou, melhor dizendo, um programa frankstein. Ideias que transitam nos interesses antagônicos entre quem banca e quem precisa. Dificilmente colará.
Uma coisa é atrair forças situadas ao centro como aliadas, fieis da balança do jogo eleitoral. Outra coisa é empolgar o eleitorado com programa centrista numa sociedade a cada dia mais polarizada entre interesses extremos.
O buraco é mais embaixo, como se costuma dizer. E implica amplo debate desde já.