O sonho é livre, fundado na realidade ou não. Ou no tempo. Como nesses últimos dias do ano que finda, quando manda a tradição fazer planos para o futuro, ainda que no horizonte limitado do ano vindouro.
Certa vez Millor Fernandes, numa coluna “livre pensar é só pensar”, escreveu que uma das ironias da vida é que quando crescemos, nos tornamos adultos, temos emprego e salário, já não queremos comprar um imenso saco de bombons!
Ou seja, a criança a quem os pais negam a quantidade (exagerada) de bombons desejada, constata que a ameaça que fizera há 18 a 20 anos atrás já não tem sentido.
Mas há adultos, como um tal Elon Musk, bilionário fabricante de foguetes, que simplesmente quer colonizar Marte em 10 anos!
Ele fala sério, conforme atestam diversos órgãos da imprensa norte-americana. Tanto que o cara controla duas poderosas empresas de TI e resolveu criar a SpaceX, que constrói foguetes e alimenta o sonho planetário do seu dono.
Na política também é assim. Há sonhos para todos os gostos – sérios ou delirantes. De objetivos estratégicos alicerçados na compreensão cientifica da realidade a pretensões que, imediatistas, projetam aspirações tão audaciosas quanto inviáveis.
É que a leitura do curso histórico nem sempre considera toda a gama de variáveis que concorreram para determinado desenlace tido como imprevisível e, por premiar a ousadia, se convertem em falsos paradigmas.
Fernando Collor, por exemplo, venceu as eleições presidenciais de 1989 como se fora um outsider, batendo concorrentes que ostentavam muito mais bagagem e prestígio. Desde então, são recorrentes as tentativas de repetir a proeza, mas sem a menor consideração para o fato de que, então, se iniciava novo ciclo político e as forças tradicionais, digamos assim, se subdividiram em mais de uma dezena de candidaturas.
Em meio ? dispersão e ? busca pelo novo por parte do eleitorado, no segundo turno se confrontaram Collor e Lula.
As eleições presidenciais de outubro se enquadram no novo ciclo conservador pós-impeachment e, no estado atual, inicialmente comporta múltiplas candidaturas. Porém, em sua essência, em nada se compara ao pleito de 1989.
Agora mesmo, cá na província, já tem gente arrotando poder de fogo que na verdade não tem, no intuito de criar o clima desejado para abocanhar o poder local em peleja cujo cenário ainda não está definido.
Equilíbrio e bom senso não fazem mal a ninguém, mais ainda quando se apoiam na avaliação da real correlação de forças e na boa percepção de tendências no comportamento futuro do eleitorado.
Enfim, nem tanto o mar, nem tanto a terra. Nem a fragilidade do garoto sequioso por se empaturrar de bombons, nem a ousadia do magnata que deseja povoar o planeta Marte. Na política, vale sonhar sim, numa perspectiva dimensionada pela realidade objetiva.