Por Mariana Moura
Há 100 anos, no dia 25 março de 1922, foi fundado o Partido Comunista do Brasil, na cidade de Niterói-RJ, trazendo ao país a expressão do crescente movimento comunista que se espalhava no mundo.
Ainda sem uma sigla naquela época, o surgimento do Partido Comunista do Brasil está diretamente ligado aos movimentos políticos dos trabalhadores do início do século, que, inspirados pelas notícias da revolução Russa de 1917, organizaram-se ao entorno do ideário comunista.
Apesar do partido ser organizado em Alagoas apenas no final da década de 20, um alagoano se destacou: Octávio Brandão ingressou ainda em 22 e rapidamente se tornou um do seus principais dirigentes e formuladores, tendo sido eleito em 1928 para o Conselho Municipal do Rio de Janeiro, pela frente eleitoral criada pelo partido, o BOC – Bloco Operário Camponês.
Em um centenário de atuação, o Partido Comunista do Brasil tem sua história marcada pela forte repressão e pela resistência, construindo um importante legado de perseverança em torno das ideias comprometidas com o povo brasileiro. No mesmo ano de fundação, os comunistas viram sua organização ser considerada ilegal, voltando a uma breve legalidade em 1927 e nesse mesmo ano retornando à clandestinidade. Somente com o fim do Estado Novo, em 1945, período em que o partido sofreu grande repressão, o partido reconquistou sua legalidade, obtendo significativos resultados nas eleições de 45 e 47, mas voltou a ser considerado ilegal em abril de 1947. O partido finalmente conquistou novamente sua legalidade em 1985, no contexto da redemocratização do país, vivendo desde então, o mais longo período de vida democrática e atuação legal dos comunistas.
Desde a formação, os comunistas marcaram a história do país com significativas contribuições nos mais diversos campos. Foram os primeiros a levantar a bandeira da reforma agrária, da redução da jornada de trabalho, participaram da elaboração das constituições de 46 e 88, contribuindo com formulações como o artigo da liberdade religiosa, proposto pelo então deputado Jorge Amado. Por sua história e atividades nas mais importantes pautas do povo, os comunistas ainda gozam de grande influência e prestígio entre artistas, intelectuais e atuam principalmente entre os trabalhadores e estudantes, com forte presença nos movimentos sindical e estudantil.
A história do Partido Comunista é também de lutas de ideias e concepções. Desde sua fundação, adotou diferentes políticas, mudando de direção em decorrência do avanço de concepções internas dentro de sua direção, tendo no início dos anos sessenta o processo que levou ao surgimento de dois Partidos Comunistas, o PCB que passou a se chamar Partido Comunista Brasileiro, e o PCdoB, que manteve inalterados o nome (Partido Comunista do Brasil) e o estatuto.
Com o golpe de 1964 os comunistas sofreram grande repressão e para combatê-la, o PCdoB realizou a guerrilha do Araguaia, o maior movimento armado de resistência à ditadura no Brasil. Na década de 70, o partido ganhou um novo impulso com a incorporação da AP – Ação Popular, organização que surgiu na igreja católica e que ao evoluir política e ideologicamente decidiu se extinguir e se incorporar ao PCdoB.
Em Alagoas, a incorporação da AP foi fundamental para a reorganização do partido, que pôde avançar na rearticulação dos movimentos de massa que ganharam forte impulso com as campanhas pela anistia, contra a carestia, pelas Diretas Já, além da campanha para derrotar a ditadura no colégio eleitoral e os processos eleitorais que se seguiram.
Entre o final da década de 70 e a década de 80, o PCdoB exerceu grande influência no movimento sindical, estudantil e popular, conseguindo eleger em 1982, pela legenda do MDB, Eduardo Bomfim para deputado estadual e Edberto Ticianeli e Jarede Viana como vereadores de Maceió. Em 1986 o PCdoB elegeu Eduardo Bomfim deputado federal constituinte e nas eleições das décadas de 90 e início dos anos 2000, o PCdoB manteve presença no parlamento da capital com as eleições de Ênio Lins, Eduardo Bomfim e Marcelo Malta.
Para Ênio Lins, ex-presidente estadual do PCdoB e atual Secretário de Comunicação do Estado de Alagoas, a trajetória do centenário do PCdoB é muito significativa, pois “não é possível contar a história do Brasil republicano sem contar a história do Partido Comunista” afirma. Ele conta que o partido sempre esteve vinculado aos acontecimentos mais importantes do país e deu contribuições muito importantes. “Aqui em Alagoas, o PCdoB deu grande contribuição na luta pela redemocratização e esteve ao lado das lutas por justiça, pela cidadania plena, pela Democracia, sempre com uma postura ampla e combativa”.
O presidente estadual do PCdoB, Lindinaldo Freitas, afirma que a história do Partido Comunista é marcada pelas bandeiras da defesa dos interesses das amplas maiorias do povo, destacando que “os comunistas lançaram o BOC – Bloco Operário Camponês, a ANL – Aliança Nacional Libertadora, participaram da frente política que elegeu e reelegeu Lula presidente da república, bem como Dilma Rousseff”. Ele lembra ainda do papel desempenhado pelo partido no governo federal, ocupando nos governos Lula e Dilma os ministérios da Articulação Política, do Esporte, da Ciência e Tecnologia e o da Defesa, com os nomes de Orlando Silva e do alagoano Aldo Rebelo.
“Celebrar os 100 anos do partido é reviver e homenagear a história de dedicação e lutas feitas por pessoas que sempre colocaram os interesses do povo acima dos seus próprios” afirma Lindinaldo. “Muito nos orgulha em fazer parte de uma organização que tem em sua história nomes como Eduardo Bomfim, Alba Correia, Maria Yvone e tantos outros alagoanos que lutaram e lutam por um mundo mais justo” conclui.
PCdoB terá agenda de comemoração do centenário
Durante todo o ano de 2022, serão realizados eventos em comemoração ao centenário do Partido Comunista do Brasil. A agenda inclui desde um festival que será realizado na cidade de Niterói-RJ ao lançamento de livros, sessões solenes em casas legislativas e exposições fotográficas.
Em Alagoas, o PCdoB promoverá uma festa no dia 25 de março para comemorar este aniversário. O evento pretende reunir filiados, lideranças políticas das mais diversas forças e organizações com uma programação festiva, contando com a apresentação de grupos culturais.
Para o presidente do PCdoB em Maceió e baixista da banda Depois dos Anjos, Cícero Filho, que irá se apresentar no evento em Alagoas, “comemorar o centenário não é uma questão apenas dos comunistas, o PCdoB ao longo de sua história contribuiu muito com o país, por isso, seu aniversário deve ser motivo de comemoração de todos”.
O evento será realizado no salão de festas Chez Marie, localizado no bairro São Jorge, em Maceió e tem previsão de início às 18 horas.