A 10ª Conferência Nacional do Partido Comunista do Brasil, deu-se em caráter excepcional: normalmente, ela é realizada após as conferências municipais e estaduais, entretanto, o caráter de urgência deu-se no tocante ? transeferência do mandato presidencial do Partido.? Renato Rabelo, sucessor de João Amazonas, presidiu o PCdoB por 13 anos e deixa a presidência para a deputada federal ? pernambucana Luciana Santos, a primeria mulher a presidir um partido político no país.
A abertura da 10ª Conferência Nacional do PCdoB, aconteceu na última sexta-feira (29), com a presença da presidenta Dilma Rousseff, dos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Carlos Gabas (Previdência), do governador do Maranhão, Flávio Dino, além de senadores e deputados federais. Acontece até hoje, no auditório da UNIP em São Paulo e conta com participação de mais de 500 pessoas vindas de todas as partes do país, entre delegados e convidados.
Discurso da Presidenta Dilma
Em seu discurso, a presidenta Dilma Rousseff, que participou da abertura da conferência? disse que comparecer aos eventos do partido é sempre uma oportunidade de participar de um debate político qualificado e agradeceu a lealdade e confiança da militância comunista:? “Em meio a esta militância eu sei que estou cercada de companheiros onde posso ouvir críticas e assumir compromissos”.
Dilma destacou a importância de o governo tomar medidas adequadas para que o país retome seu crescimento e disse que? “desde a eclosão da crise, adotamos uma estratégia de fortalecer as políticas sociais, ampliamos crédito subsidiado, BNDES concedeu financiamentos e autorizamos investimentos para estados e municípios em montantes nunca antes feitos na história deste país, ? para preservar a renda e os empregos”. Mas fez? questão de reafirmar que as medidas não vão afetar os investimentos dos programas sociais e de infraestrutura,? ressaltando? que seu governo tem como prioridade a melhoria de vida das pessoas.
A presidenta também ressaltou que o país precisa de uma reforma política para fortalecer os partidos e defendeu o fim do financiamento empresarial de campanhas. Se posicionou? contra a redução da maioridade penal, e? advertiu que há um conservadorismo muito perigoso em curso no país:? “que se penalize o adulto e usa a criança como escuda para cometer crimes, mas resolver a questão da violência do menor com internação em prisões, não resolve”. Dilma? também afirmou que para dar o salto de qualidade na educação e na saúde lembrou o pré-sal cumprirá um importante papel, mas salientou que mesmo com a destinação de 25% do fundo do pré-sal para a saúde, ainda não será suficiente.
Dilma resgatou a trajetória de lutas do PCdoB, que completou 93 anos em março. “Muitos partidos ficaram para trás ou ao invés de crescerem, encolheram. O PCdoB, sem abrir mão de seus ideais, da sua bandeira vermelha, dos seus compromissos e do socialismo, tornou-se um partido profundamente democrático. Se transformou sem abandonar suas crenças, sem renunciar as suas convicções. Quando penso numa explicação, me lembro de dois militantes: um é o João Amazonas e o outro é Renato Rabelo” e disse que “o? PCdoB é, sem dúvida, formado por homens e mulheres fortes, com fibra… Os verdadeiros parceiros ficam conosco em momentos de desafios e estamos vivendo momentos difíceis. Tenho certeza que posso contar com o PCdoB em todos os momentos, pois nas horas difíceis é que sabemos com quem contar”.
Em seu último discurso como presidente do Partido,? Renato aponta os desafios do PCdoB
Em seu último discurso como presidente do Partido, Renato disse que “essa conferência foi além e tem sido proveitosa para ouvir e unir o partido, num momento político singular. Um momento que nós consideramos instável e perigoso que vive o Brasil”.
Diante dessa realidade geopolítica, “os Brics se afirmam com o sentido de acelerar a transição nas relações de poder no mundo em direção ? multipolarização, ocupando o lugar de protagonistas na luta por uma nova ordem global”.
Renato lembrou ainda que é preciso aprofundar e acelerar o processo de integração solidária da região, fato que tem o apoio do PCdoB, de acordo com a linha dos últimos Congressos, com o papel ativo de resistência ? contraofensiva do imperialismo. Impulsionando, segundo ele, a unidade das forças populares e progressistas de solidariedade internacional.
Sobre a sua saída da presidência, Renato afirmou: “Deixo a presidência nacional do glorioso Partido Comunista do Brasil convicto do dever cumprido perante a todo o coletivo partidário. Estou confiante de que a querida camarada Luciana Santos, com a sua trajetória de militância, vai honrar o compromisso com o partido e com o apoio decisivo dos quadros e militantes, conduzirá nosso partido avante. Conquistará novas vitórias rumo a um Brasil soberano, democrático e socialista, que é a razão de ser da nossa legenda”, destacou Renato Rabelo em seu discurso.
Sobre os desafios do PCdoB,? Renato fez uma profunda análise da atual conjuntura política e econômica do país e apontou os desafios do partido nesse processo:? “a? grande crise sistêmica, econômica e financeira abalou toda a economia global, atingindo gradativamente e profundamente os países em vias de desenvolvimento, como o Brasil, forçando ajustes em suas economias, provocando refluxos no seu crescimento”. E disse que? “sem a compreensão desse quadro na sua intereza, é parcial, limitada ou de má-fé se chegar as conclusões que concentra toda a responsabilidade dessa situação bastante adversa no governo da presidenta Dilma, com o fito político de desacreditá-la”, pontuou Renato, destacando o grande esforço da presidenta Dilma em proteger a economia nacional.
Disse que no Brasil,? “A esquerda sofreu danos provocados por intensa, prolongada e permanente campanha da grande mídia, de mais de uma década, concentrada seletivamente em criminalizar o PT, atingindo setores da base do governo e inclusive o PCdoB” e que “para impulsionar a contraofensiva, a premissa para isso consiste em ampliar e somar forças políticas e sociais, e não o contrário”.
Completou que? “o? ponto nuclear de nossa tática, pela emergência da situação política, é precisamente defender a democracia, a Constituição e o Estado de Direito. Entendemos que este é ponto de partida para a retomada da inciativa política. E mais, para impulsionar a contraofensiva, a premissa consiste em ampliar e somar forças, políticas e sociais, e não o contrário. Daí a imperiosidade de articular uma frente ampla com todas as forças possíveis na defesa da democracia, da economia nacional e da retomada do crescimento”.
(Click aqui e leia na íntegra o discurso do ex-presidente do PCdoB, Renato Rabelo)
Palavras de Luciana
Luciana Santos, em seu discurso, expressou o seu compromisso e clareza do desafio que assumirá. “Sinto-me honrada e consciente da grande responsabilidade que assumirei neste fim de semana, mas sobretudo, sinto um grande orgulho deste coletivo, dos meus camaradas e das minhas camaradas em todo o país que fazem com que esse organismo, de 93 anos de vida, continue jovem, vivo e pulsante”.
A presidenta do PCdoB fez questão de ressaltar os avanços consolidados pelo partido sob a direção de Renato:? “Recebemos de tuas mãos, um Partido Comunista forte e influente, contemporâneo, dotado de um Programa Socialista que tem se revelado uma bússola segura neste mar revolto do Século 21, sacudido pela terceira grande crise do capitalismo”.
Frente ampla em? defesa do Brasil, do desenvolvimento e da democracia
Depois de intensos debates e avaliações conjunturais, os comunistas aprovaram resolução que defende a formação de uma ampla frente em defesa do Brasil, do desenvolvimento e da democracia.
Para o PCdoB é fundamental construir essa frente em torno de uma agenda unificada que atenda aos anseios da população, como a defesa da democracia, da legalidade, do mandato legítimo e constitucional da presidenta Dilma; defesa da Petrobras, da economia e da engenharia nacional; combate ? corrupção, fim do financiamento empresarial das campanhas; e pela retomada do crescimento econômico do país e garantia dos direitos sociais e trabalhistas.
A conferência salientou ainda o papel destacada do campo progressista e de esquerda no âmbito da frente ampla. Para os comunistas, o bloco de esquerda formado por partidos, organizações, entidades, lideranças de amplos setores do povo, da cultura e da intelectualidade, sociedade em geral, deve atuar fortalecer a frente por meio da mobilização social e popular.
“Somente uma frente dessa natureza que una as forças patrióticas, progressistas e democráticas da Nação será capaz de enfrentar, isolar e derrotar o consórcio da oposição que na ofensiva trama o retrocesso”, diz o documento.
Por Mariana Moura