Parece óbvio, mas não é. Empunhar a metralhadora giratória e atacar a todos indiscriminadamente é grave erro na luta política. No mínimo leva ao isolamento — e, em consequência, ao enfraquecimento e ? derrota
Essa atitude kamikaze é de uma inconsequência ridícula. Entretanto, no ambiente de crise em que vivemos, na esteira do que muitos consideram “autocrítica” necessária em relação a alianças ao centro, está em voga.
Ora, tomando como referência os governos Lula e Dilma, frutos de vitórias eleitorais obtidas através de alianças amplas, o erro nunca esteve na amplitude e na pluralidade dos apoios, mas na condução política.
Ainda no segundo governo Lula, quando o presidente e o seu partido enfim compreenderam o peso do PMDB como grande agremiação centrista, se errou na dose. Peemedebistas passaram ? condição de aliados preferenciais e se desfez o incipiente porém útil núcleo de esquerda, que reunia o próprio PT, o PCdoB e o PSB e, eventualmente, o PDT.
Isso teve repercussões importantes no âmbito do governo e no Parlamento. Seja no que se refere ao conteúdo de importantes políticas públicas, seja mesmo na relação do governo com o conjunto da sociedade.
Mas negar a absoluta necessidade de alianças amplas é grave equívoco. Como algumas correntes políticas o fazem agora, lendo equivocadamente o desenrolar dos acontecimentos que levaram ao impeachment da presidenta Dilma e ao tenebroso quadro atual.
Assim, na fase atual da resistência democrática, ainda carente de largueza e solidez, o passo dado pelas fundações de estudos e pesquisas do PT, PCdoB, PDT e PSB ao lançarem manifesto em defesa da soberania do país, da democracia e dos direitos do povo — indicativo de elementos essenciais de um programa de superação da crise — contribui inclusive como antídoto ao sectarismo inconsequente.
O manifesto pauta as oposições. Serve de referência também ? construção de coalizões no âmbito dos estados ao sinalizar um diálogo com todas as forças e personalidades interessados na agenda proposta.
O que muita gente ainda não compreende é que entre o debate e o combate frontal há uma diferença, que se relaciona com a acolha do alvo principal do ataque. “Demarcar posições” em relação a possíveis aliados e arrefecer ou se descuidar do enfrentamento da força emergente ? direita é embaralhar as relações e confundir o povo.
A História consolidou a percepção de que em toda batalha há que se identificar o alvo principal, neutralizar forças que porventura seja impossível atrair para o nosso campo (explorando contradições nas hostes “inimigas”), agregar todas as forças possíveis de serem atraídas (inclusive aliados meramente temporários e circunstanciais) e, se possível, constituir ampla coalizão conduzida por um núcleo de esquerda.
Nem sempre as coisas acontecem exatamente de acordo com esse postulado. Mas é preciso tentar.